Nem sempre foi assim. O dia 25 dezembro é uma data pré-cristã adotada oficialmente como a natividade de Jesus a partir do ano 353 pela Igreja Católica Romana. A escolha se deu em função de substituir o caráter pagão da festa de 25 de dezembro que agitava Roma a cada ano nas comemorações do nascimento do deus Mitra. Tratava- se do "dies natalis Solis" (dia de nascimento do deus Solar), que acontecia ao final de sete dias de festas dedicadas a Saturno entre 17 e 24 de dezembro.
Clemente Alexandrino, profundo pesquisador da vida de Jesus, acreditava em torno do ano 200 que o nascimento do Messias teria se dado entre 19 de abril e 20 de maio " época, portanto, primaveril. Mas na incerteza e até para substituir festas pagãs, o governo romano, convertido à nova religião, transformou as comemorações de Mitra naquelas de Jesus.
Apesar de a escolha do Natal ter sido influenciada por decisão política, a data de 25 de dezembro não deixa de fazer justiça à fama de Jesus Cristo, filho do Pai e concebido pelo Espírito Santo através da Virgem Maria. A natividade de Mitra (um deus solar) foi usurpada pelos romanos da tradição egípcia que fazia coincidir com essa data o nascimento do deus Horus, fruto da união de Osíris (pai-sol) e de Isis (mãe-lua), completando assim a trindade que governa o Universo. Horus era adorado como o grande deus "amado dos céus, descendente dos deuses, subjugador do mundo". No quarto dia após o solstício de inverno era retirado do templo e sua imagem de menino recém- nascido era exposta à adoração.
Na nossa busca, deveríamos sempre nos voltar para Cristo. Destacamos duas experiências na vida de Jesus, pilares que até hoje sustentam o cristianismo como caminho espiritual: uma experiência mística e outra política. A mística é a experiência de sentir-se Filho de Deus, enviado entre a humanidade como Salvador e Messias. Sendo Jesus da mesma humanidade que nós, porque é nosso irmão, essa consciência de ser Filho do Pai abre a possibilidade a cada um de nós de fazer a mesma experiência, sentindo-nos seus filhos e filhas queridos (cfr. 1Jo 3, 1). Como seria diferente a humanidade se todos soubessem e fossem respeitados como filhos e filhas de Deus, nas diferenças, nas raças e nas culturas! A segunda experiência de Jesus é de natureza político-religiosa.
Em sua pregação, Ele anunciou que o Reino de Deus está próximo e, de fato, já se encontra em nosso meio (Mc 1, 15). O Reino é a presença ativa e transformadora de Deus no universo e em cada ser humano. Jesus revela um Deus cheio de compaixão e misericórdia, que ama e cuida, cura e restabelece a vida. Ele não se isola das pessoas, mas se aproxima de todos, especialmente dos rejeitados, até porque se não fizesse isso, a encarnação não teria sentido.
O mundo se desenvolveu de maneira extraordinária, e ao mesmo tempo não consegue nos tornar mais humanos. A sociedade como um todo está perdendo o essencial, a sua alma e os valores que dão sentido à existência.
A espiritualidade existe justamente para recuperar a alma quando a perdemos, a partir de uma união profunda com Deus, viver a solidariedade, a justiça, a paz e a defesa da Criação integrados no seu conjunto com a mesma espiritualidade de Jesus. Resgatar o verdadeiro espírito do Natal na chegada do menino-Deus nos ajuda a assumir um estilo de vida segundo o Espírito de Cristo, e a contrapor a sociedade do espetáculo e do consumo.
Aproveito e desejo a todos um Feliz Natal, com muita paz e saúde.
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