Como no início da epidemia de dengue no Rio de Janeiro, ainda são angustiantes as dúvidas da população acerca dos motivos que levaram ao colapso da saúde de cariocas e fluminenses. Perigo este que espalha pelas grandes Capitais. O descompasso entre poder público e metas de um plano de saúde preventivo se reflete na omissão e nos erros de governantes.
A dengue é hoje um dos males mais bem compartilhados do Rio. Atinge pobres e ricos. Até certo ponto, tornou-se comum entre classes mais ou menos abastadas, mais ou menos favorecidas. A doença é identificada principalmente em núcleos urbanos e rurais mais empobrecidos. Por conseqüência, são os pobres os mais atingidos e suscetíveis à doença. E é, neste retorno da dengue, a fatia pobre da cidade que volta a ser a mais prejudicada em meio aos temores.
O roteiro é, infelizmente, previsível. Quando os ricos adoecem, recorrem a hospitais particulares, onde contam com estrutura e equipe quase sempre suficientes. Não é a realidade, porém, da maior parte das vítimas, das quais muitas vieram a falecer em leitos públicos.
Está-se diante de sucessivos exemplos do deboche protagonizados pelo poder público. A omissão foi só parcialmente aplacada pela força-tarefa instalada para enfrentar a doença, constituída pelos governos federal e estadual, com o apoio dos militares. No curto prazo, deverá cumprir sua função – pelo menos é o que desejam os fluminenses. A vitória não eliminará, porém, as evidências de uma outra omissão: aquela que transforma em martírio permanente a vida de multidões de pacientes que precisam recorrer à rede pública de saúde no Rio.
Um exercício de imaginação permite pensar se o estado de coisas atual se repetiria caso a maior parcela de atingidos pela dengue fosse formada pelos mais endinheirados. Mais ainda, se estes precisassem recorrer aos hospitais públicos para pedir socorro contra a doença. Seria previsível uma resposta mais enérgica para corrigir incongruências injustificáveis da rede de saúde. Ou assistiríamos a um crime culposo de semelhante origem como o acobertado pelas autoridades locais se a população atingida fosse essencialmente a de maior poder aquisitivo?
Não é de hoje que os cariocas, especialmente os cariocas pobres, convivem com as deficiências dos hospitais e postos de saúde públicos. Neles, faltam remédios, faltam leitos, faltam materiais e equipamentos, faltam médicos, falta tudo. Ainda que tais carências sejam compensadas pela tentativa do governo estadual, continuam presentes as cenas habituais de desespero de doentes, de filas intermináveis e da escolha dos médicos para quem vai ou não ser atendido.
Os prejuízos decorrentes do avanço da dengue são incalculáveis. Custam vidas e dinheiro. O turismo, por exemplo, já está sofrendo perdas consideráveis.Que a sociedade se empenhe urgentemente na união em nome da vida no Rio. Trata-se da única via para fazer justiça e incriminar a quem se deve: as autoridades.
Evite esse mal, faça a sua parte e proteja-se!
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