O debate em torno da ética jornalística tem por hábito situar o jornalista numa espécie de Olimpo, onde ele permanece como integrante de uma casta privilegiada. Não somente o próprio jornalista se autoproclama um intocável, como lança para a opinião pública tal imagem. Na prática, não deveria haver esse muro demarcando os limites entre o jornalista e o interesse público. A ética jornalística é a ética do cidadão.
É pensando assim que a empolgante palestra com o repórter e jornalista, Caco Barcellos, que ministrou uma palestra sobre “Liberdade de Imprensa – Ética na Comunicação: Limites e Responsabilidades da Imprensa”, destacou que o jornalista tem que ter em mente que a informação é um direito fundamental da sociedade. Portanto, quando se fala em ética, é preciso concordar que ela deve ser um imperativo moral para todos e não apenas para um ou outro segmento.
Na ocasião, ele que contabiliza mais de 35 anos de atuação na área, tendo se especializado em reportagens investigativas, documentários e grandes matérias sobre injustiça social e violência, dividiu suas impressões sobre o ofício jornalístico e suas implicações socioeconômicas.
O gaúcho afirma que “vergonha na cara”, herança de seu pai, é característica fundamental tanto para jornalistas quanto para qualquer cidadão que queira atuar de forma construtiva na sociedade.
O encontro motivou as reflexões sobre os riscos da profissão e representou a importância da reportagem investigativa e mostra o valor que deve ser observado no empenho da atuação profissional ética de um repórter de televisão, capaz de mudar o rumo da história política recente do Brasil. O bom jornalista deve ter método ético, postura responsável, apuração rigorosa e cuidados com o texto.
Barcellos pausou a palestra por algumas vezes para apresentar vídeos de reportagens que marcaram época, após serem apresentadas por telejornais da Rede Globo.
Na primeira intervenção, foi mostrado o vídeo em que o jornalista entra no apartamento de 400 metros quadrados, em Miami, comprados por US$ 800 mil pelo juiz Nicolau dos Santos, preso por ter desviado mais de 250 milhões do Fórum Trabalhista de São Paulo.
Primeiramente, com o acesso ao imóvel impedido pelos seguranças do prédio, o jornalista se passou por auxiliar de marceneiro para conseguir o seu intento. “Sabia que poderia pegar até meio ano de prisão por invasão de patrimônio privado, mas resolveu correr o risco para garantir que o país conhecesse o destino do dinheiro que lhe era roubado”, afirma.
A defesa apresentada que garantiu a absolvição para o processo judicial resultante da veiculação da reportagem foi de que de certa forma o imóvel do juiz Lalau (como foi apelidado pela imprensa) era em uma pequena fração proveniente de seu imposto, portanto patrimônio dele.
Barcellos destacou que faz parte da ética do jornalista não se corromper nem a terceiros para buscar uma prova que fundamente uma reportagem.
Outra reportagem apresentada no telão, que chocou os presentes, foi a sua cobertura da guerra civil angolana que vitimou centenas de milhares de pessoas. Em um dos momentos mais dramáticos da reportagem, um médico chinês de um grupo humanitário lutava para manter vivo um bebê alvejado nas costas, contando apenas com os poucos recursos de um posto médico sem luz ou água tratada. Tanto a criança quanto um enfermeiro atingido na cabeça durante a operação de resgate de feridos com uma ambulância não sobreviveriam a noite.
Barcellos afirmou que a guerra civil é uma realidade brasileira. Há dez anos, na lista dos cinco países mais violentos do planeta, o país tem uma média de 50 mil pessoas vitimadas anualmente pela violência. “Em São Paulo, mais de 45% dessas pessoas são mortas pelas tropas de elite da polícia militar, muitas vezes em ações de extermínio que contam com a conivência da imprensa. Os veículos de comunicação trazem os fatos a público com a explicação de que elas foram ocasionadas por confrontos com a polícia”, diz. Segundo ele, mais de 300 mil pessoas foram mortas pela polícia nos últimos dez anos, “a maioria com a cumplicidade do silêncio de jornalistas”, protesta. Conforme o profissional, esse número é quase o dobro de mortes registradas na recente guerra do Iraque.
Para Caco Barcellos, muita gente olha desconfiada para os membros da imprensa, quando eles chegam com as forças de repressão policial. Uma das maiores preocupações para profissionais da área é entender que o outro lado da história deve ser consultado para garantir o conflito de opiniões fundamental para a boa prática do jornalismo. Os jornalistas devem fugir dos clichês profissionais e buscar trazer informações do outro lado. Só com o relato de todas as partes envolvidas o leitor pode se informar de forma satisfatória sobre os ângulos de uma reportagem.
Pensar a ética jornalística no dia-a-dia das redações é antes de tudo cobrar do repórter responsabilidade na apuração e redação dos fatos. Definir o que é notícia e mostrá-la de forma verdadeira e clara, deixando de lado todas as convicções partidárias à pauta para refletir no texto apenas o que foi apurado in loco. Caso esta regra clássica não possa ser cumprida é melhor "deixar à pena de lado" e a matéria apenas na cabeça de quem a pensou. No jornalismo ético só há lugar para opiniões em colunas, artigos e editoriais.
Assim, ética, honestidade, trabalho sério não devem ser adjetivos ou penduricalhos gramaticais na vida do profissional. Devem ser a essência da profissão. Na verdade ética não é um assunto para ser discutido ou ensinado. É para ser praticado porque ser honesto consigo mesmo e com o leitor não é favor algum.
Um comentário:
oi amigo tudo bem?
obrigado por comentar meu blog
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