Enquanto foliões pagam cerca de R$ 500 para sair em um bloco, cordeiros ganham diariamente cerca de R$ 30
Um fenômeno que se expressa por tantas cores, significados, sentidos e sons. Um espetáculo múltiplo e complexo da cultura, capaz de revelar – de forma real, provisória e efêmera – a própria vida da Bahia e seu povo, que experimenta e vive o carnaval de bairro, dos circuitos, dos bailes; todos estes repletos de música, dança, confraternização e batucadas elétricas.
Considerada a maior festa de rua do mundo, a folia momesca reúne milhares de pessoas em apenas sete dias nos circuitos. São sete dias diferentes, anormais, prazerosos, vividos com alegria, expectativa, vibração e liberdade.
Uma contradição que ocorre na maior festa popular do Carnaval de Salvador se transforma há muito tempo em um verdadeiro comércio. De um lado, os ricos curtindo o melhor da festa em luxuosos camarotes ou nos blocos; como se não fosse o bastante, os camarotes cobrarem caro para os foliões desfrutarem das mordomias nos equipamentos, eles estão cada vez maiores e reduzem mais ainda o espaço da pipoca. Do outro, os foliões que se arriscam na pipoca e, entre eles, os cordeiros que trabalham duro para permitir proteger e dar segurança a uma elite.
A lógica do carnaval de Salvador é praticamente esta, uns poucos ficam alheios à festa e uns tantos, daqui e mundo afora, se entregam ao clima singular desta época. Há espaço para tudo e para todos, dentro do panorama econômico da sociedade. O carnaval visa a atender a essas novas demandas impostas pelos interesses do sistema econômico.
Mas a contradição desse Carnaval gira em torno da parcela afro descendente e carente, em sua maioria manter-se-á marginalizada, ocupando-se com a catação de recicláveis, manutenção da segurança, comércio ambulante e claro, os cordeiros.
Os cordeiros que trabalham incansavelmente sete dias de carnaval, que tem o tempo do percurso mínimo de cinco horas e o máximo, oito horas de folia; os cordeiros devidamente identificados com a marca de cada bloco garantem a segurança e a delimitação entre os que pagaram e os que não pagaram; os excluídos e os escolhidos; para ao final do dia receberem míseros R$ 30,00.
É tão somente o retrato do que ocorre o ano todo, e durante os 7 dias de festa acaba por concentrar-se no espaço da avenida. O clima de miséria gerada pela exclusão social do Carnaval de Salvador acaba e demonstra claramente que a festa beneficia o setor de turismo e claramente aos que podem pagar e usufruir dessa festa. É preciso, pois, que todos cidadãos, sociedade e poder público repense na maior festa popular do planeta.
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