quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Verdadeira aula de História do Brasil no Pará: Cametá


Localizado sobre um platô à margem esquerda do Rio Tocantins, com cerca de 3km de extensão, Cametá é um desses lugares cheios de encantos, mitos, monumentos e muita, muita história. Além, é claro, dos atrativos naturais, com destaque para as praias de águas mornas e transparentes. Seu povo acolhedor é conhecido pelo falar cantado, quase um "francês caboclo".

O município de Cametá é o mais antigo e tradicional dos baixos rios do Tocantins, pela sua importância histórica empresta seu nome à antiga microrregião de Cametá. Com uma história interessante, Cametá passou recentemente a categoria de Patrimônio Histórico Nacional, pela sua notável tradição histórica.



Chegar até aqui, foi uma aventura e tanto em uma estrada de terra, esburacada, com paradas em pequenos povoados. Gente simples, onde num olhar distante você tinha certeza que a vida ali custava a passar. Ou seja o progresso, ainda caminha aos passos de tartaruga.  Chega-se à cidade de Cametá fazendo um singular passeio entre o rio e a floresta, a viagem é alternada entre barco e ônibus ou somente barco, dura aproximadamente 6 horas, até Belém. Ou quem, como eu, vinha de Marabá, passando pelo lago de Tucuruí, tive que pegar 4 balsas pois a cidade fica do outro lado do rio Tocantins, em uma viagem de 10horas até a cidade de Cametá, uma viagem cansativa, mas que fiz uma amizade incrível.

Conheci o cidadão Cametaense Sr. Otávio Midelo Freitas, que com sua simplicidade e generosidade, contou as histórias e estórias desse lugar tão distante que eu estava a descobrir. Cidade com mais de 120 mil habitantes e uma história daquelas, que sempre pensamos será que existiu mesmo. Gente hospitaleira. Terra dos notáveis de nossa história e o melhor a fala engraçada dos cametaense. A designação de "Terra dos Notáveis" deve-se ao desempenho de alguns filhos ilustres, no Pará e em todo o Brasil, homens que se destacaram na política, na religião e no social. O que explica, em parte, o orgulho que o cametaense sente de sua terra. Foram muita coisa boa que aprendi nesse lugar em um dia de trabalho e que fica guardado nessa aventura e passagem por essa cidade.



Os principais atrativos de Cametá são as praias d’Aldeia, Pacajá e Cametá-Tapera. Alimentação e hospedagem têm custos variados, mas com faixas de preço para várias classes.  A praia da Aldeia é uma das mais conhecidas e belas praias em Cametá. A praia de aguá doce e límpida é um belo cenário para quem deseja curtir um pouco da amazônia e suas riquezas naturais. As areias da praia da Aldeia são claras e possui um comércio voltado para os turistas e banhistas. Os bares e restaurantes servem os melhores pratos regionais.



A cidade de Cametá, além de estar cercada pela bela natureza amazônica e ter um povo simpático e hospitaleiro, possui uma grande riqueza cultural. A cultura cametaense é marcada pela mistura de várias etnias: indígena, francesa, portuguesa, e tais influencias são nitidamente visíveis no jeito de ser cametaense que chama a atenção: a forma de falar, cantar, dançar ou vestir.

A própria culinária cametaense apresenta-se sob a forma de pratos tipicamente indígenas como o saboroso “mapará com açaí” ou ainda a torta de camarão e a sopa de “aviú”, um minúsculo camarão. E depois de uma maravilhosa refeição e um cochilo na rede é só esperar pelo tacacá das 17h, que já é tradição pelas ruas da cidade.

Pode-se dizer, ainda que Cametá é marcada pelo forte catolicismo devocional ou popular, baseado nas devoções aos santos, sendo os mais conhecidos: São João Batista (padroeiro da cidade), São Benedito, Nossa Senhora das Mercês, Santa Rita de Cássia, entre outros.

Muitos aspectos colocam a cidade de Cametá como uma grande opção turística no estado e não são apenas os atrativos naturais de suas praias ou as belezas da cidade que tornam a visita obrigatória por quem deseja conhecer o que há de melhor no Pará. Dois grandes eventos da cultura popular cametaense, pelo menos, “arrastam” para essa cidade milhares de pessoas todos os anos: o carnaval e as festas juninas.

Apesar das influências do resto do país, o cametaense não cansa de se nutrir do gosto das coisas da terra, a sua essência, que não lhe deixa partir.



História

Em 1635, Feliciano Coelho de Carvalho ancorou sua caravela na primeira porção de terra firme da margem esquerda do Tocantins. Encontrou a tribo dos Camutás já pacificada pelo Frei Cristovão de São José e em 24 dezembro fundou a vila Viçosa de Santa Cruz do Camutá, a primeira cidade no baixo rio Tocantins. Mais de três séculos e meio depois, Cametá é um dos portos mais importantes do Pará.



Tão logo é fundada Belém, as atenções dos colonizadores portugueses voltam-se para a zona do rio Tocantins, mesmo porque franceses e holandeses já tinham se estabelecido no nordeste e feito o reconhecimento para exploração desta região. Com a expulsão dos estrangeiros intensificou-se a colonização na região para que a Coroa Portuguesa não perdesse território em função do Tratado de Tordesilhas. Assim sendo, começa a colonização do Tocantins, mais de um século após o descobrimento do Brasil e Cametá é a segunda localidade fundada no Pará.

As primeiras incursões são dos padres jesuítas, que no se afã catequético avançam aos mais longínquos e inóspitos rincões. Deste modo, novo governador do Maranhão e Grão-Pará, Jerônimo e Alburquerque incumbe os padres capuchos de Santo Antônio da catequese do gentio no território que governa. Por estas plagas habitavam os índios Camutás, possivelmente uma tribo pertencente à grande nação Tupinambá, pois utilizavam o Tupi como idioma. Saliente-se ainda que essa língua já foi a mais falada nessa região, tanto que ficou registrado no toponímia local. O primeiro sacerdote a realizar o trabalho de catequese por estas plagas foi Frei Cristovão de São José.

Por aqui ele aportou por volta de 1617 numa faixa de terra que é a primeira porção de terra firme às margens do Tocantins - Cametá-Tapera. Imediatamente entrou em contato com a tribo dos Camutás, conhecidos como hábeis remadores em montarias e exímios caçadores. Depois de árdua catequese conseguiu arrebanhar os índios para a cricunvizinhança de uma ermida às margens do rio, isso ocorreu por volta de 1620, originando-se assim o primeiro povoamento do baixo rio Tocantins. Essa povoação serviria posteriormente como alicerce para a donataria de Feliciano Coelho de Carvalho.




A donatária de Camutá foi concedida a Feliciano Coelho de Carvalho por ato do governador do Maranhão e Grão-Pará Francisco Coelho de Carvalho que em 14 de dezembro de 1633 doou para seu filho a vasta capitania que cobria todo o vale do rio Tocantins.

Que a palavra Cametá é de origem tupi dúvidas não há, diferem portanto, algumas interpretações. Por isso, cumpre-se arrolar algumas delas: segundo Jorge Hurley, deriva de caá - mato, floresta e mutá ou mutã - espécie de degrau ou "palanque" instalado em galhos de árvore feitos pelos índios para esperar a caça ou para morar. Para Carlos Roque, o significado literal de Cametá é "degrau do mato" , abanado inclusive por Victor Tamer, pois derivaria de Camutá. Luiz Tubiriçá, trata o vocábulo como derivado de caá + mytá - choupana suspensa em árvore para espera de caça. No Dicionário Toponímico da Microrregião do Camutá acrescentamos ao significado de Jorge Hurley, o hábito dos índios Camutás de construírem sua habitações tão altas quanto as árvores, ou quem sabe até nas copas destas.
Uma verdadeira aula de História do Brasil em pleno Norte. Vizinho dos municípios de Mocajuba, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru, Cametá se situa a 92 km a Sul-Oeste de Abaetetuba, uma cidade muito conhecida.




Cametá, também é festa e é um dos melhores destinos para os amantes do carnaval em solo paraense. O carnaval em Cametá sintetiza as principais atrações carnavalescas do Brasil, desde as animadas marchinhas do carnaval tradicional aos modernos trios elétricos embalados pelo som da axé music, além das tradicionais manifestações culturais locais que há quase dois séculos fazem do carnaval da cidade um dos mais animados do estado, atraindo foliões do Brasil inteiro e outros países. Chega a ter na cidade 200 mil pessoas na festa.

O siriá é uma dança brasileira originária de Cametá. É considerada uma expressão de amor, de sedução e de gratidão para os índios e para os escravos africanos ante um acontecimento. Para eles é algo sobrenatural e milagroso. O seu nome derivou-se de siri, influenciado pelo sotaque dos caboclos e escravos da região. Os elementos são os mesmos utilizados na dança do carimbó, porém com maiores e mais variadas evoluções. O Siriá é um pássaro amazônico. Existem o rítmo e a dança.


Vale a pena ver esse vídeo da Cidade de Cametá, feito por uma afiliada da TV Globo.

http://globotv.globo.com/rede-liberal-pa/e-do-para/v/em-cameta-hospitalidade-da-populacao-encanta-turistas/2396766/


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